Caderno de Campo #2


"CARTA ABERTA AOS TORREJANOS" 

1 - Introdução
Torres Novas é enquanto cidade uma estrutura urbana jovem, com uma dimensão populacional e territorial reduzida, e ainda sem o corpo de uma cidade consolidada, mas com uma história e um património socioeconómico e cultural rico e diversificado. Mas tenho presente que Torres Novas, tal como as demais cidades, tem uma vida cíclica de crescimento e envelhecimento, de expansão e contenção, de progressão e regressão. É o que verificamos ao analisarmos as efemérides que referenciam a vida da cidade de Torres Novas, do estabelecimento humano inicial e construção do castelo aos dias de hoje.

2 - A importância do património
A cidade de Torres Novas constitui património, natural e cultural. Porque inclui valores naturais, monumentos, conjuntos e locais de interesse, ocorrências com valor histórico, artístico ou científico, e uma população que ao "Fazer Cidade" foi construindo uma comunidade, vivendo, preservando e transmitindo uma cultura muito própria. Contudo, enquanto património, natural e cultural, a cidade é frágil, submetida aos impactos do tempo e das atividades humanas.
O pluralismo do património, a sua correta reabilitação, integração e utilização pelos torrejanos, designadamente o Rio e margens do Almonda, as áreas históricas, imóveis e ocorrências classificados, constituem elementos centrais do desenvolvimento urbano da cidade de Torres Novas que ambicionamos. Tal objetivo implica a imediata adoção de medidas básicas: a contenção da expansão urbana difusa conjugada com o preenchimento dos vazios urbanos intersticiais e a reabilitação e valorização do espaço público e zonas históricas e áreas degradadas; a interligação em continuidade da estrutura urbana com a estrutura concelhia de proteção e valorização ambiental; a relação interativa com outros territórios de maior ou menor proximidade, relação que está na matriz da cidade de Torres Novas - implica “ o Refazer da Cidade”, como se foi fazendo e refazendo o seu tecido ao longo do tempo.

3 – Um contributo
“O Refazer da Cidade” de Torres Novas hoje deve atender a um conjunto de vetores de enquadramento: de salvaguarda da identidade das componentes fundadoras do seu património; de valorização dos fatores dinamizadores do seu desenvolvimento; de valorização e integração dos ativos do seu património; de formação e incentivo do desenvolvimento cultural e participativo das suas organizações comunitárias; de estabelecimento de pontes interativas com outros territórios de proximidade, outras culturas e identidades. Só assim será possível alcançar a cidade de Torres Novas que pretendemos, coesa e com capacidade para constituir uma centralidade à escala da sub-região – numa visão síntese “Torres Novas, a cidade do rio Almonda e das pontes para o desenvolvimento” ou “Torres Novas, uma cidade no centro do desenvolvimento”.
A construção desta visão síntese implica a sua transposição para ações que a concretizem, e a cooperação íntima e transparente da administração e da comunidade nessas ações: valorizar a relação da cidade com o rio Almonda e salvaguardar a unidade, identidade e utilização pública das suas margens – descobrir e fruir o rio Almonda; valorizar e integrar as pontes sobre o rio Almonda na rede de espaços públicos, e na constituição e desenvolvimento das centralidades urbanas – constituir e sinalizar as pontes como locais referenciais da cidade; valorizar e animar a utilização do castelo e dos centros históricos de Torres Novas, Lapas e Riachos de forma integrada e interativa com a valorização do rio Almonda - constituir uma estrutura de unidade e complementaridade dos três centros urbanos; conter a expansão difusa e a dispersão urbana; constituir e valorizar como centralidades as 4 portas da cidade, sendo as portas N, E e S referenciadas a pontes sobre o rio Almonda (a porta N ou porta do rio, localizada nas Lapas; a porta E ou porta do centro, localizada no Bom Amor; a porta S ou porta da cidade, localizada na Várzea dos Mesiões; a porta O ou porta da colina, localizada nos Negréus) e sendo o centro histórico o ponto central dessas centralidades e de cruzamento dos eixos transversais (apx. N – S e E-W) dessas 4 portas; planear o desenvolvimento urbano de Torres Novas numa escala de interação próxima com Riachos, Meia Via/Entroncamento, Golegã, e numa escala de interação alargada com a sub-região em que se integra e as suas cidades, Fátima, Tomar, Abrantes, Santarém; incentivar a participação pública e promover concursos públicos de ideias para o tratamento das áreas de referência; valorizar os técnicos municipais e promover a elaboração e atualização dos instrumentos do ordenamento do território e da gestão urbanística; investigar, classificar, reabilitar, sinalizar e divulgar o património natural e cultural e a memória viva das personalidades e instituições relevantes para o desenvolvimento de Torres Novas; dinamizar aa associações, redes e eventos culturais, e sobretudo a informação e participação pública através duma gestão urbana regida por princípios éticos, de competência e transparência.

É este o olhar que vos deixo sobre o futuro de Torres Novas.

[este texto, assinado por Vassalo Rosa, é a síntese da comunicação apresentada no encontro “O fazer e o refazer da cidade” no dia 21 de dezembro de 2016, em Torre Novas].



* O caderno de campo é a ferramenta usada pelos investigadores de diversas áreas do conhecimento (como a biologia, a geologia, a geografia, a sociologia, a literatura, a arquitetura, a antropologia, as belas artes e outras) para anotar as observações das saídas de campo ou reflexões avulsas.

ADPTN | Associação de defesa do património de Torres Novas

Publicado por:

ADPTN

Missão: salvaguarda dos patrimónios; resiliência territorial; produzir conhecimento; suscitar encontros e debates.

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