ADPTN adere ao Projeto Rios
"A Associação de Defesa do Património de Torres Novas associou-se ao Projeto Rios e está, neste âmbito, a constituir um grupo que vai adotar, conhecer e monitorizar um troço do Rio Almonda, já a partir da próxima primavera.
Infelizmente, são por todos conhecidos os problemas que afetam o Rio Almonda e várias outras linhas de água do concelho. No passado e no presente, a própria ADPTN, enquanto associação de defesa do património natural local, tem chamado a atenção para a necessidade de proteção e valorização do Rio Almonda, contra a poluição e a favor de iniciativas que promovam a qualificação deste elemento diferenciador do nosso território. Em colaboração com outros movimentos, entidades ou associações locais, a ADPTN vai continuar a fazê-lo.
Mas a adesão ao Projeto Rios tem também outros objetivos, associando a defesa ambiental à promoção do que é hoje designado de eco-cidadania, de fomento da participação pública por um rio melhor e o incentivo a práticas de educação ambiental mais perenes e consistentes. É neste sentido que o grupo da ADPTN do Projeto Rios vai atuar.
O Projeto Rios surgiu há 20 anos na Catalunha e está em implementação em Portugal de 2006. Em Espanha tem mais de 1000 grupos a monitorizar troços de linhas de água e em Portugal mais de 300. Coordenado pela ASPEA, Associação Portuguesa de Educação Ambiental, o projeto inclui ainda outras organizações parceiras e temo como objetivo central a promoção da sensibilização da sociedade civil para os problemas e necessidades de proteção e valorização dos sistemas ribeirinhos.
Assim, vamos adotar um troço urbano do rio, com cerca de 500 metros, caracterizá-lo e visitá-lo pelo menos duas vezes por ano, na primavera e no outono. Nas saídas de campo, abertas à participação de todos, vamos identificar a flora, a fauna e outros aspetos da paisagem ribeirinha, recolher amostras, analisar a qualidade da água e outros aspetos de caracterização do estado do rio, fazendo publica a informação obtida. Um outro compromisso do projeto é o desenvolvimento de uma ação anual de melhoria, relativa ao troço de rio adoptado ou para todo o conjunto do Almonda.
Neste sentido o Projeto Rios é para a ADPTN uma oportunidade de aliar a defesa de um valor natural à educação ambiental, a promoção da ciência à participação pública, ou o conhecimento à cidadania. Estão todos convidados a participar.
Jorge Salgado Simões. Geógrafo. Técnico superior de educação."
* O caderno de campo é a ferramenta usada pelos investigadores de diversas áreas do conhecimento (como a biologia, a geologia, a geografia, a sociologia, a literatura, a arquitetura, a antropologia, as belas artes e outras) para anotar as observações das saídas de campo ou reflexões avulsas.
"Arqueologia: um património em afirmação."
"Quando Alexandre Herculano percorreu o Norte do país, na segunda metade do século XIX, catalogando documentos nos cartórios dos mosteiros locais, poucos contemporâneos terão compreendido o alcance da sua missão. Num Portugal com níveis de desenvolvimento económico e literacia que o aproximavam mais de uma realidade colonial que da Europa, a preocupação com velhos pergaminhos foi considerada um gasto de recursos absurdo. Mesmo os círculos intelectuais se inquietavam pouco com o estado miserável de conservação desses arquivos: os historiadores da época interessavam-se por batalhas e epopeias ou casamentos e intrigas, consoante a moda de cada corte. Hoje, mais de um século volvido, será indiscutível a importância para a memória colectiva torrejana de documentos como o foral de Torres Novas de 1190 ou o Tombo das Capelas, elaborado nos finais da Idade Média.
São os vestígios arqueológicos que assumem agora o lugar dos «papéis» de Herculano. Desde 1997 que a legislação nacional e órgãos estatais – com a criação do Instituto Português de Arqueologia – preconizam a compatibilização entre a protecção desse património e as operações urbanísticas e outras intervenções territoriais. No entanto, mantêm-se ainda dominante uma perspectiva da Arqueologia como uma actividade desprovida de interesse público, quase uma excentricidade do poder central, que é preciso aplacar despendendo o mínimo de recursos possível. Ou mesmo um obstáculo ao “verdadeiro” desenvolvimento, aquele que se faz com obra e com betão.
E assim se menoriza uma das potencialidades da arqueologia: a recuperação do quotidiano das cidades passadas, abrindo perspectivas de conhecimento para além do documento escrito. Com a adequada gestão deste património seria possível interrogar, de forma fundamentada, as origens da cidade, os ritmos da sua expansão, as relações comerciais dos seus habitantes e tantos outros eixos de investigação. Por outro lado, num momento em que os fluxos turísticos parecem compensar as fragilidades da nossa economia periférica, o património arqueológico pode constituir-se como elemento fundamental quer na criação de espaços que convidem o visitante a demorar-se pela cidade, quer na afirmação da identidade própria de cada lugar. Aquela que é procurada pelo viajante, algo saturado da replicação de oferta turística e dos espaços descaracterizados pela adaptação àquilo que se julga ser um gosto absolutamente padronizado.
A ADPTN assume assim como missão afirmar a arqueologia, numa abordagem contemporânea, como elemento basilar da salvaguarda e valorização patrimonial.
Marco Liberato. Arqueólogo. Bolseiro da FCT."
* O caderno de campo é a ferramenta usada pelos investigadores de diversas áreas do conhecimento (como a biologia, a geologia, a geografia, a sociologia, a literatura, a arquitetura, a antropologia, as belas artes e outras) para anotar as observações das saídas de campo ou reflexões avulsas.
"Do cidadão à cidade: dispositivos de poder e participação democrática"
"Velha de milhares de anos, a cidade continua a ser um espaço em mutação, expressão fiel das formas de sociabilidade e cooperação tanto quanto das tensões e conflitos que definem cada período histórico. Calhou-nos viver um tempo de mudança acelerada, que tem sido objeto de múltiplas interpretações, umas sublinhando o «medo» como condição inescapável da selva urbana, outras apontando a «liquidificação» do que a modernidade nos habituara a ver como sólido, outras ainda sinalizando a exponenciação do «individualismo», tornado critério matricial da condição humana.
Ainda que velhas de milhares de anos, as cidades são, desde sempre, o espaço ideal para novas e transgressoras experiências de vida coletiva. É na cidade que nasce a democracia, e com ela as ambições mobilizadoras que a modernidade nos legou - igualdade, soberania popular, inclusão.
Enquanto lugar de concretização da utopia democrática, a grande cidade cosmopolita, típica deste novo século, pode ser vista como uma espécie de microcosmos, ponto nodal para onde toda a sociedade olha, umas vezes como ameaça outras como promessa de um mundo melhor. A utopia democrática parece-nos cada vez mais distante, mas existem, porém, sinais de resistência, e, uma vez mais, é na cidade que esses sinais se expressam de forma evidente.
É preciso reforçar e reinventar o lugar e o papel dos cidadãos na gestão do que é comum. Ao invés da fatalidade de um regime pós-democrático, já muitas vezes evocado, há que defender o fortalecimento de uma democracia solidificada pela base, pelo envolvimento dos cidadãos que a todos nos implica. Perante as ameaças à democracia outros sinais vão emergindo, trazendo com eles a esperança de uma sociedade mais justa e de cidades mais integradas e democráticas. A vontade de uma democracia participativa, fecundada por modelos de participação cívica, vai ganhando relevo e destaque.
Os orçamentos participativos e outras votações e discussões públicas de projetos e planos municipais, como a que se está a fazer, atualmente, em Torres Novas, a propósito do PEDU, são uma das faces das novas propostas democráticas para vencer o ceticismo e o desânimo: experiências positivas ainda que ambíguas devido ao potencial de transgressão que encerram. Os orçamentos participativos e as demais discussões públicas correm o risco de ser reduzidos a encenações de participação: uma espécie de emblema de «boa conduta democrática». Está nas mãos dos cidadãos fazer com que tudo mude, obrigando os governos locais a distribuir poder efetivos pelos governados.
É esta a luta que importa empreender, e a cidade, uma vez mais, há de ser o palco privilegiado dessa luta.
Lúis Cunha, antropólogo/docente na Universidade do Minho e investigador do Centro de Rede de Investigação em Antropologia
* O caderno de campo é a ferramenta usada pelos investigadores de diversas áreas do conhecimento (como a biologia, a geologia, a geografia, a sociologia, a literatura, a arquitetura, a antropologia, as belas artes e outras) para anotar as observações das saídas de campo ou reflexões avulsas.
"Velha de milhares de anos, a cidade continua a ser um espaço em mutação, expressão fiel das formas de sociabilidade e cooperação tanto quanto das tensões e conflitos que definem cada período histórico. Calhou-nos viver um tempo de mudança acelerada, que tem sido objeto de múltiplas interpretações, umas sublinhando o «medo» como condição inescapável da selva urbana, outras apontando a «liquidificação» do que a modernidade nos habituara a ver como sólido, outras ainda sinalizando a exponenciação do «individualismo», tornado critério matricial da condição humana.
Ainda que velhas de milhares de anos, as cidades são, desde sempre, o espaço ideal para novas e transgressoras experiências de vida coletiva. É na cidade que nasce a democracia, e com ela as ambições mobilizadoras que a modernidade nos legou - igualdade, soberania popular, inclusão.
Enquanto lugar de concretização da utopia democrática, a grande cidade cosmopolita, típica deste novo século, pode ser vista como uma espécie de microcosmos, ponto nodal para onde toda a sociedade olha, umas vezes como ameaça outras como promessa de um mundo melhor. A utopia democrática parece-nos cada vez mais distante, mas existem, porém, sinais de resistência, e, uma vez mais, é na cidade que esses sinais se expressam de forma evidente.
É preciso reforçar e reinventar o lugar e o papel dos cidadãos na gestão do que é comum. Ao invés da fatalidade de um regime pós-democrático, já muitas vezes evocado, há que defender o fortalecimento de uma democracia solidificada pela base, pelo envolvimento dos cidadãos que a todos nos implica. Perante as ameaças à democracia outros sinais vão emergindo, trazendo com eles a esperança de uma sociedade mais justa e de cidades mais integradas e democráticas. A vontade de uma democracia participativa, fecundada por modelos de participação cívica, vai ganhando relevo e destaque.
Os orçamentos participativos e outras votações e discussões públicas de projetos e planos municipais, como a que se está a fazer, atualmente, em Torres Novas, a propósito do PEDU, são uma das faces das novas propostas democráticas para vencer o ceticismo e o desânimo: experiências positivas ainda que ambíguas devido ao potencial de transgressão que encerram. Os orçamentos participativos e as demais discussões públicas correm o risco de ser reduzidos a encenações de participação: uma espécie de emblema de «boa conduta democrática». Está nas mãos dos cidadãos fazer com que tudo mude, obrigando os governos locais a distribuir poder efetivos pelos governados.
É esta a luta que importa empreender, e a cidade, uma vez mais, há de ser o palco privilegiado dessa luta.
Lúis Cunha, antropólogo/docente na Universidade do Minho e investigador do Centro de Rede de Investigação em Antropologia
* O caderno de campo é a ferramenta usada pelos investigadores de diversas áreas do conhecimento (como a biologia, a geologia, a geografia, a sociologia, a literatura, a arquitetura, a antropologia, as belas artes e outras) para anotar as observações das saídas de campo ou reflexões avulsas.
Cartaz da Apresentação Pública da Posição da ADPTN
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Contributos da ADPTN para o PEDU
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Resultados do Inquérito à população sobre o PEDU
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Apresentação PowerPoint da ADPTN no Evento
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Contributos da ADPTN para o PEDU
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Resultados do Inquérito à população sobre o PEDU
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Apresentação PowerPoint da ADPTN no Evento
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